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Depoimento de Mayra Pinheiro à CPI da Covid expôs conduta criminosa de Bolsonaro

Respondendo a perguntas do senador Randolfe Rodrigues, a secretária de Gestão do Trabalho e Educação do Ministério da Saúde se mostrou contrária à postura do presidente na gestão da pandemia

O depoimento da secretária de Gestão do Trabalho e Educação do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, à CPI da Covid, nesta terça-feira (25), deixou claro que foi criminosa a forma como Jair Bolsonaro se posicionou na gestão da pandemia da covid-19. Respondendo a questionamentos do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), a médica afirmou que vacinas, máscaras, isolamento social e evitar aglomeração são essenciais para a redução de mortes e que conceitos como imunidade de rebanho ou imunização via infecção não são recomendados. Sobrou também para o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello.

Randolfe começou seus questionamentos enaltecendo a autoridade que a depoente tinha para falar de tais assuntos. “Doutora Mayra, meus respeitos, tenho que considerar que o vosso currículo e a sua atuação como médica devem merecer a consideração das senhoras e senhores senadores aqui nessa comissão parlamentar de inquérito.” A partir daí, passou a fazer perguntas com foco em Bolsonaro.

Após sua participação, o senador, que também é vice-presidente da CPI da Covid, concluiu: “Durante um tempo existiu um consenso, logo nos primeiros dias da pandemia, quando se teve as primeiras notícias (…), do que acontecia na Itália, na Europa. O mundo estava escandalizado com o número de mortos. Devido a isso, era necessário fazer de tudo para que o vírus aqui não chegasse e, se chegasse, se tomassem as medidas necessárias. Esse consenso foi desfeito no dia 24 de março de 2020, quando sua excelência, o presidente da República, usou cadeia de rádio e televisão e disse que tudo não passava de ‘uma gripezinha’. O depoimento da doutora Mayra só reafirma a responsabilidade (de Bolsonaro) pelos 450 mil mortos até hoje”.

Imunização e efeito rebanho

Randolfe começou perguntando a opinião de Mayra Pinheiro sobre a imunização de rebanho, conceito defendido pelo presidente. “Induzir imunidade através do efeito rebanho é perigoso. Para grandes populações você não sabe quantas pessoas vão precisar ser submetidas para esse tipo de teoria e ela pode induzir a milhares de óbitos, então eu não concordo com isso de forma generalizada”, respondeu a secretária.

A seguir, ainda na mesma linha, o senador questionou se a médica concordava com outra tese defendida pelo presidente, de que pegar a doença seria a melhor forma de conseguir imunização. “Nós podemos desenvolver imunidade de duas formas. A doença em si confere imunidade, mas a vacina confere imunidade em escala. A gente não precisa esperar que muitas pessoas adquiram (sic) a infecção para elas terem imunidade. Se a gente dispuser de uma vacina, claro que a gente vai ter imunização mais rápido de muitas pessoas”, respondeu.

Randolfe foi além e questionou se ela incentivaria alguém a se infectar deliberadamente para adquirir a imunização. “Eu inclusive gravei um vídeo sobre isso dizendo às pessoas que é necessário elas tomarem a vacina mesmo que elas tenham tido a doença. Mesmo que tenha a doença é aconselhável que as pessoas se vacinem.”

Nesse ponto, o senador fez a primeira associação direta com Bolsonaro, lembrando declaração do ex-presidente (“Eu tive a melhor vacina, o vírus”) dada no final de dezembro. “É uma declaração que acaba indo no sentido contrário do que a senhora mesmo argumentou”, disse. Mais tarde, já ao final de sua participação, o parlamentar perguntou a Mayra Pinheiro se ela se lembrava de alguma fala do presidente defendendo o isolamento social. “Não me recordo”, foi a resposta.

Bolsonaro, máscaras e aglomeração

As máscaras também foram tema dos questionamentos de hoje. Randolfe tomou uma argumentação da própria depoente feita algumas horas antes, na mesma CPI. Mayra alegou que a Organização Mundial da Saúde (OMS) havia errado, no início da pandemia, ao orientar pelo não uso do equipamento de proteção, orientação essa refeita tempos depois. Mayra “entrou na conversa” e acabou afirmando com ênfase o erro da OMS. “Sim, se hoje sabemos que se trata de uma doença de transmissão por aerossóis, todos nós devemos usar máscaras.” A OMS só passou a recomendar o uso de máscara a partir de junho.

A seguir, o senador foi ao ponto: “Então, o que dizer das aglomerações sem máscara que o presidente da República faz, como a que aconteceu neste último final de semana no Rio de Janeiro?” A reposta foi evasiva. “A minha presença aqui é técnica”, disse Mayra Pinheiro. “Não vou comentar as questões relativas ao presidente”, acrescentou.

Randolfe insistiu. “Se a senhora considera que é um erro, (promover e participar de) aglomerações com milhares de pessoas, sem máscaras, e declarações contra o uso de máscaras, então a senhora não acha que (a postura de Bolsonaro) influi nos brasileiros?” Nova evasiva: “Eu não vou opinar no comportamento do presidente da República”. “Usar máscara ou não não é uma questão de opinião”, retrucou o parlamentar pelo Psol. “Como médica, eu oriento a todos os meus pacientes, as famílias dos meus pacientes, aos meus familiares a usarem máscaras e manter o distanciamento social. Sigo esses preceitos”, rendeu-se Mayra. Randolfe concluiu: “Eu vou depreender que pelo seu raciocínio o presidente cometeu um crime contra a saúde pública e contra a ordem sanitária no domingo”.

Bulas e Pazuello

Outro ponto destacado por Randolfe envolvendo Bolsonaro foram as tentativas de mudança nas bulas dos remédios que compuseram o chamado “kit covid”. O objetivo era que fosse incluída a covid-19 como doença combatida pelas medicações. Questionada se sabia de alguma reunião, citada por outros depoentes, com tal finalidade, Mayra Pinheiro disse que soube apenas assistindo aos depoimentos na própria CPI da Covid. Quando foi perguntada sobre a opinião que teria a respeito, tentou escapar, mas acabou dizendo que alterações em bulas devem passar pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Além de Bolsonaro, os questionamentos de Randolfe também miraram o ex-ministro Pazuello. O senador reapresentou um documento de janeiro em que a médica afirma ser “inadmissível” a não adoção de medidas de tratamento precoce em Manaus. Com isso, Randolde apontou contradição com o depoimento de Pazuello na mesma CPI da Covid. “(Pazuello) disse na semana passada que o ministério não havia recomendado o uso de cloroquina e hidroxicloroquina. O senhor Eduardo Pazuello mentiu.”

Diante de uma tentativa de Mayra Pinheiro de ‘consertar’ o estrago, dizendo que orientação é diferente de recomendação, ela foi cortada com uma ironia. “Hoje tem sido um festival de figuras de linguagem. Acho que vamos ter de inaugurar aulas básicas de literatura nessa comissão parlamentar de inquérito”, encerrou Randolfe.

Fiocruz

Quando o assunto foi a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ao responder sobre o que acha da instituição Mayra Pinheiro a classificou como “de excelência, que tem dado grandes contribuição para a vacina”. Randolfe, então, soltou um áudio com a médica falando sobre à Fiocruz, destacando trecho em que ela questiona ações da agência que ela considerou “de esquerda”: “Tudo deles envolve LGBTI, eles têm um pênis na porta da Fiocruz, todos os tapetes das portas são a figura do Che Guevara, as salas são figurinhas do Lula Livre, Marielle Vive”.

A alusão aos pênis que a secretaria enxergou na porta da Fiocruz é, aparentemente, uma logomarca pelos 120 anos da instituição, cuja sede é conhecida por ser composta por uma alta torre cuja cúpula é arredondada (confira ao lado).

Randolfe disse refutar a declaração, acrescentando que a Fiocruz “é a instituição responsável pela única vacina conveniada pelo governo brasileiro, com mais de 100 anos de existência”.

Fonte: Rede Brasil Atual

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