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Flexibilização de confinamento ameaça com descontrole e mais mortes

Ministério da Saúde sinaliza que pode relaxar medidas de isolamento a partir do dia 13 de abril, centro da queda de braço entre Bolsonaro e Mandetta e razão da pressão do Planalto. Boletim Epidemiológico prevê “distanciamento social seletivo” a partir da próxima semana. Mudança é preocupante

No mesmo dia em que uma reunião no Palácio do Planalto fechou o acordo pela permanência do ministro Luiz Henrique Mandetta no cargo, o Ministério da Saúde divulgou novas orientações para o isolamento social, no Boletim Epidemiológico 7. A nova orientação da pasta aponta para a flexibilização das medidas de isolamento, o centro da queda de braço entre o presidente Jair Bolsonaro e o próprio Mandetta.

O documento de orientação e informação do governo indica que “a partir de 13 de abril, os municípios, Distrito Federal e estados que implementaram medidas de distanciamento social ampliado, onde o número de casos confirmados não tenha impactado em mais de 50% da capacidade instalada existente antes da pandemia, devem iniciar a transição para um “distanciamento social seletivo”.

De acordo com o boletim, os locais que apresentarem coeficiente de incidência 50% superior à estimativa nacional devem manter essas medidas até que o suprimento de equipamentos – leitos, equipamentos de proteção individual (EPIs), respiradores e testes laboratoriais – e equipes de saúde estejam disponíveis em quantitativo suficiente. Isso teria como objetivo promover, com segurança, “a transição para a estratégia de distanciamento social seletivo conforme descrito na preparação e resposta segundo cada intervalo epidêmico”.

Mesmo com os condicionamentos apresentados, a divulgação da medida ocorre no momento em que se tornam públicas as dificuldades de obtenção de  EPIs, leitos e respiradores. O próprio Mandetta reafirmou à imprensa o “mantra” de que, até o momento, a única arma que temos para combater o coronavírus é o isolamento social. Nos principais centros urbanos do país, especialistas apontam que, não fosse o isolamento, os números de óbitos já seriam maiores.

Advertência

No mesmo dia, o governo de São Paulo prorrogou a quarentena no estado por mais 15 dias, mantendo apenas os serviços essenciais em funcionamento. “Aqueles que me pressionam para agir contra meus princípios (para acabar com o isolamento), vocês estão preparados para assinar os atestados de óbitos de brasileiros, a preparar os caixões?”, advertiu o governador de São Paulo, João Dória.

No exterior, o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe declarou estado de emergência a partir desta terça-feira, 7, com duração inicial de um mês para Tóquio e outras seis regiões do país. A capital do Japão, que agora reformula sua orientação, foi utilizada por Bolsonaro, em suas redes sociais, como argumento para suas teses negacionistas da pandemia.

Pesquisa do DataFolha, informa que 72% dos entrevistados afirmaram estar seguindo as orientações de ficar em casa. A pesquisa também registra que 54% disseram sair apenas quando é inevitável, para comprar comida, por exemplo. Outros 18% declararam estar totalmente isolados, sem sair de casa em nenhuma hipótese.

Para especialistas, é preciso ter cuidado com mudanças bruscas na orientação sobre o isolamento social. Um mau exemplo, o tour de Bolsonaro pelo Distrito Federal há dois finais de semana, “liberou” parcela da população para relaxar o isolamento. Em Brasília, e em outras cidades do entorno, ficaram evidentes a circulação e a aglomeração de pessoas nas ruas.

Revisão

Em todo o mundo, a gravidade da pandemia tem sido implacável com decisões que sobrepõem acordos políticos à ciência e aos fatos. Os riscos de afrouxar as medidas por razões políticas ou econômicas já resultaram em graves consequências em outros países. Os Estados Unidos, que pretendiam interromper o isolamento nesta Páscoa, já decidiram ampliar o prazo até o final de abril.

Para o senador Rogério Carvalho (SE), líder do PT no Senado Federal, o ideal é manter a estratégia originalmente definida, para assegurar a eficiência no combate à pandemia. “É preciso manter a quarentena, a intensificação do isolamento social nos moldes que foram definidos no Brasil”, disse.

Além disso, segundo o senador, a quarentena deve estar acompanhada de garantia da renda mínima para toda a população vulnerável, suporte às empresas e aos trabalhadores formais para manter a nossa base produtiva apta à retomada da atividade econômica pós-pandemia.

Da Redação, com agências de notícias

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