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Pós-impeachment: PT aposta na volta às origens

 

11 de agosto de 2016

 

Elio Rizzo/Cedoc

Francisco Dutra
francisco.dutra@jornaldebrasilia.com.br

Embora não admita publicamente, o PT começou a traçar estratégias para se reposicionar nacionalmente, após o iminente impeachment da presidente Dilma Rousseff. A derrota fulminante na última votação do afastamento no Senado foi sinal claro da consolidação do processo para a cúpula petista, pelo menos no embate no Congresso. Em um cenário com a perda do Planalto, a primeira tática em avaliação é a disputa do maior número possível de cargos nas eleições municipais deste ano.

Nós primórdios petistas, na década de 80, a sigla adotou estratégia semelhante. O partido concorreu em praticamente todos os locais possíveis, apoiando todo tipo de candidatos, indo de personagens pitorescos e pouco representativos, embora ideologicamente ligados aos princípios originais da legenda, até nomes competitivos.

Com a queda de Dilma, associada à repercussão das denúncias da Operação Lava Jato, internamente o partido projeta a redução do número de petistas eleitos ao final de outubro. Daí surge a tática do maior número possível de candidatos próprios, precisamente para compensar as perdas potenciais. Mas a estratégia da cúpula ainda não é consenso entre referências importantes da legenda. Por exemplo, Arlete Sampaio faz ressalvas.

“O PT deve analisar as circunstâncias de cada região. A realidade de Brasília é diferente de Fortaleza, por exemplo. Definitivamente, o partido não deve fazer alianças com partidos golpistas. Sobre esta estratégia, ela pode ser equivocada. As coisas não são preto no branco. Existem nuances que precisam ser vistas”, ponderou Sampaio.

A unidade da esquerda deve ser a prioridade na composição eleitoral, do ponto de vista da deputada federal Erika Kokay. “O PT deve até mesmo abrir mão de certas cabeças de chapa para darmos mais densidade à esquerda”, afirmou. Segundo a parlamentar, a reaproximação dos movimentos sociais também é prioridade. As reflexões de Arlete e Erika ressoam dentro do partido. Em sigilo, outros petistas de relevo estão preocupados com possibilidade do partido acabar selando alianças “fracas”, dilapidando o duvidoso patrimônio político que ainda lhe resta.

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A estratégia de lançar todos candidatos possíveis foi fundamental na ascensão de Lula. Respaldado pelo “carisma”, o líder sindical tentou várias eleições, mesmo sem chances de vitória.

Apenas depois das derrotas, Lula ganhou densidade e votos. A questão é que, na época, o PT era um partido novo e sem as manchas de grandes escândalos.

Golpe é reversível, diz presidente

“O golpe em curso ainda é reversível”, declarou o presidente regional do PT no DF, Roberto Policarpo. Na noite de ontem, inclusive, a bancada nacional do PT reuniu-se em Brasília com o ex-presidente, Luiz Inácio “Lula” da Silva, e o presidente nacional do partido, Rui Falcão.
Além das estratégias políticas, os caciques discutiram quais seriam as linhas de ação viáveis para “reverter” o impeachment. Mesmo que o impeachment seja inevitável, o partido precisa se posicionar, especialmente diante da opinião pública. Este passo é essencial para a construção do discurso político da legenda para as eleições de 2018.

“Muita coisa ainda pode acontecer. As delações da Lava Jato estão trazendo à tona coisas fortes contra Michel Temer, Aécio e Serra. Há muita coisa contra o PMDB e PSDB. Eles já teriam sido afastado em qualquer país sério. Aqui estão sendo blindados. Mas isso pode mudar. Vai mudar”, comentou Roberto Policarpo.

Erika Kokay faz coro com o presidente regional. “O PT nasceu sob botas e baionetas da ditadura. Agora enfrentamos as versões pós-modernas delas. Elas se transformaram nos paletós e gravatas do golpistas. O PT tem uma história de enfrentamento e lutará contra o golpe em curso”, disparou a deputada.

No Senado, a reversão do afastamento de Dilma é um desafio de proporções míticas. Na votação da penúltima etapa do processo, 59 senadores, contra 21, endossaram a continuidade do julgamento. Na última fase, prevista para o final deste mês, o número necessário é menor. Para selar o impeachment são necessários 54 votos.

publicado no Jornal de Brasilia em 11/082016

 

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